sexta-feira, 1 de março de 2013

Texto de João Reis

Conheço uma série de pessoas que têm medo. Têm medo de se comprometer. Umas porque não se revêem em determinado tipo de manifestações, outras porque preferem estar caladas e ver o que acontece, outras ainda porque encontram forma ou formas mais singulares e solitárias de manifestar o seu desagrado. Mas tudo isto somado é ainda muito pouco para entender esse medo. O comprometimento não configura nenhuma espécie de coragem participativa, nem nenhuma obsessão pelo insulto, nem tão pouco o desrespeito pela opinião dos outros. Haverá ainda muitos portugueses que não acordaram para uma espécie de morte anunciada da Europa e do país. Uns porque não acordaram mesmo e os outros porque sendo muito cépticos não acreditam em cenários alternativos e credíveis ao rumo que estamos a tomar. Em Itália, o cenário pós-eleições revelou o descrédito dos cidadãos em relação à classe política em geral e às suas políticas em particular. Como dizia um amigo meu, economista silencioso, políticas de "caixão à cova". Não se pense contudo que o cenário em Itália pode anunciar algo de profundamente esperançoso. Não. Pode aliás, e até, anunciar a catástrofe, a catástrofe que há-de vir. Uma das coisas maravilhosas da manifestação de 15 de Setembro, foi a transversalidade social e política que a caracterizou. Parecia que afinal nem andávamos a dormir e tínhamos todos (ou quase todos ) vontade própria e sentido de indignação e repulsa pelas políticas que antecipadamente nos empurram para a "cova". Isto ( e o isto aqui é muito grande) tem mesmo de acabar, tem mesmo de mudar. Mas não se pense que o que queremos ver transformado em mudança há-de acontecer por inspiração divina ou por acervo crítico em conversas de café. O que queremos mudar exige comprometimento e responsabilidade.Exige que possamos falar e dizer basta, na rua, livres de preconceitos! Porque o medo come a alma.