quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Texto de Luísa Ortigoso

Corria o mês de Novembro de 2012 e o neto de uma amiga, do alto dos seus quatro anos, pergunta-lhe: «Avó, eu era bebé, agora sou crescido, qualquer dia sou grande como tu. E depois como é? Acaba o Mundo?»

Sou subscritora do apelo à manifestação de 2 de Março. Vou estar presente. Vou gritar com todas as vozes que lá estiverem: «Que se lixe a troika. O povo é quem mais ordena!» Porquê? Porque quero poder responder àquele menino e a todos os meninos que o Mundo não acaba, mas que vai ser diferente.

Que vai ser um Mundo justo e em que se pode sonhar, mesmo sendo grande. Que vai ser um Mundo que chega para todos. Que vai ser um Mundo em que todos têm trabalho e recebem um salário justo, com justas condições para o fazerem com empenho e alegria. Que vai ser um Mundo em que a escola é para todos, onde alunos e professores fazem o caminho da descoberta como quem escreve poemas no futuro. Que vai ser um Mundo em que todos têm acesso a cuidados de saúde, porque o simples facto de se ser um cidadão o garante. Que vai ser um Mundo em que ser-se velho é a alegria de viver devagar, saboreando os dias. Que vai ser um Mundo em que os mercados importantes são aqueles onde vamos ao sábado de manhã comprar a fruta e os legumes frescos da «dona Filipa», que nos recebe com um sorriso e se despede com um ramo de hortelã para nos perfumar o prato, a casa e o dia. Que vai ser um Mundo em que as riquezas naturais são de todos e para o bem de todos. Que vai ser um Mundo em que todos respeitam a natureza e contribuem para a preservar, porque dela são parte. Que vai ser um Mundo em que todos participam para o bem comum e dele usufruem. Que vai ser um Mundo em que todos se respeitam e se ouvem e colaboram. Que vai ser um Mundo de Paz. Que vai ser um Mundo com Teatro, com Música, com Dança, com Livros, com ARTE para todos, para que todos possam sonhar. Que vai ser um Mundo em que aquele menino e todos os meninos sorriem, quando olham o futuro. Que vai ser um Mundo em que todos — mulheres, homens, crianças e bichos — podem ser felizes.

É utopia? Talvez. Mas, como diz Fernando Birri (pensador, realizador, o «pai» do novo cinema latino-americano), tantas vezes citado sobre o tema por Eduardo Galeano (maravilhoso escritor, poeta e pensador uruguaio), «A utopia serve para caminhar».

Ir para a rua no dia 2 de Março faz parte do caminho da luta por um País livre e justo, por um Mundo feliz. Lá estarei, de mãos dadas e coração aberto ao futuro que nos desejo a todos, com todos os que quiserem dar as mãos. Lá estaremos para, todos juntos, gritarmos a uma voz que se fará ouvir de Norte a Sul do nosso País de Água: «Que se lixe a troika. O povo é quem mais ordena!»